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quarta-feira, 28 de julho de 2010



CAUSOS DO MEU ONTEM


O RIO QUE PASSOU EM MINHA VIDA

"Salve!
Como é que vai?"

Pelos caminhos da net, acabei por cruzar com uma amiga que me fez voltar no tempo e no espaço...
Numa de suas mensagens, ela fez fundo com a música “amigo é pra essas coisas”, foi ouvir e entrar em transe...
Bateu nostalgia e, lá fui eu a viajar para o velho Rio de Janeiro dos bons tempos em que não se falava em R15 e bala perdida.
O único perigo era a navalha dos bons malandros e, raros  tiros que  não se perdiam.
Meu irmão já morava por lá e eu fui passear.
Minha estréia não poderia ser pior.
Quando cheguei, pela primeira vez, em meados dos anos cinqüenta, após dias de viagem nos velhos trens da noroeste, paulista e outros monstros de ferro,
tinha como objetivo três coisas: ver o mar, cair na gandaia à custa de meu pai e conhecer a boate Vogue que, por aqui, diziam ser o máximo em noitadas do velho Rio.
Cheguei num sábado e, na quinta anterior, a boate havia sido devorada por um incêndio. Não deu praia, e meu irmão tomou meu dinheiro.
Fiquei pouco e como ainda vivia da “bolsa papai”, voltei frustrado para o velho Mato Grosso (ainda Estado uno).

Só retornei para ficar mais tempo no início dos anos sessenta.
Foi quando me iniciei na Faculdade de Malandragem e Boemia da Cidade Maravilhosa.
Àquele tempo, o Largo do Machado cheirava pantanal.
Por ali, a comunidade mato-grossense era grande.
Não tínhamos faculdades por aqui e o destino era São Paulo ou Rio de Janeiro.
A maioria dos jovens frequentava a UNE e fazia refeições no calabouço. Eu, preferi associar-me a UMI-União dos malandros iniciantes- e fazer minhas refeições nos botecos do centro, de Copa e Ipanema (geralmente, picadinho carioca ou a religiosa feijoada do Alcazar), até que meu pai desconfiou que tinha muito bububu naquele bobobó e chamou-me às origens.
Mas, o tempo que fiquei por lá, valeu!

Curti o melhor, do melhor Rio de Janeiro...
Esnobei no Sacha’s, Fossa, Baiuca, Sucata -ah! Mulatas do sargento!-Golden Room do Copa, Alt Berlin e tantos outros que a memória nega dar nomes.
Subia a Niemeyer direto para chopiscar no Ben, no Bom, no Meia trava, no Convés, deixando a sobremesa para degustar no Sagitárius, My Flower, Miami, Havaí, ou, já descendo, no Vip’s.

Cometi aplausos ao vivo para o Quarteto em Cy, Tom, Toquinho, Chico, Vinícius, MPB4, Antonio Carlos & Jocafi, Ribamar, Valeska, Maysa, Zé bodega, Macaxeira...
Saracoteei pelos ensaios da Portela no Mourisco,  da Padre Miguel no Cacique, "passei" pelas bandas de Ipanema, Miguel Lemos, Sá Ferreira e Copacabanda. Vi de perto as Escolas de Samba ainda puras, sem a invasão de estrelas e turistas, na Tiradentes.Perdi-me na rua dos Artistas em Vila Isabel;me encontrei  na Lapa boêmia de verdade, rindo que nem bobo por ver de perto o famoso Madame Satâ.
Meninos, eu vi!

Pequei muito lá pela Rio Branco, no ventre da Nigth and Day, Aquárius, às vezes na Prado Júnior. No mangue decadente, nem pensar!
Depois, ia rezar com a maior cara de pau, lá na Candelária.
Mais uma vez, a “bolsa papai” deu um basta e eu tive que abandonar os “estudos”.

Só mais tarde, por conta própria,  iria buscar diplomas em São Paulo, mas aí já é outra história.
No Rio eu não passava da matrícula. Por que será?
Esperavam que eu voltasse douto. voltei compositor e cheio de ginga....Valeu!

Já nos anos setenta, virei arroz de festa no Rio.
Aqui, eu era agente de viagens, Secretário de Estado de Turismo e boêmio profissional e, sempre dava um jeitinho de visitar a EMBRATUR na Praça da Bandeira e, de lá, esticar para Vila e outros lugares que lá deixei.
Abraçar o garçom Chico, do Garota de Ipanema, última testemunha viva das minhas sandices.
Mas o Rio já era outro...
Tudo bem.
O melhor eu já tinha vivido.

Daí que, o destino me chamou de volta ainda há pouco.
Tudo "por causa de que" eu fui arrumar uma namorada carioca.
Por mais de oito anos, fiz ponte daqui pra lá, de lá pra cá, já acomodado e temeroso da nova realidade carioca.
Para não dizer que não falei de flores, andei desfilando no bloco Feliz da Vila, trocando pernas no Municipal e no América só pra não perder o costume!

            Não à-toa, vez em quando,  procuro o velho violão- que até hoje, não sei tocar-para tentar viajar no tempo...Ele responde rouco e cansado como o dono.
O pouco que conseguimos balbuciar sai travado em tom e voz, embargados pela emoção.
Tempo bom... não volta mais...uma lágrima, apenas, molha minha face e se esconde entre as cordas do velho pinho...
Saudade!

"A vida é um dilema..." (Mas sempre vale à pena)

Obrigado pela lembrança, Graça!

Edson C Contar
Campo Grande MS

[EDSON CARLOS CONTAR,descendente dos mineiros fundadores da cidade, por herança materna e, pelo lado paterno, de drusos libaneses da bela Rãs-El Mathen, justifica sua versatilidade de historiador, escritor, poeta e compositor, na genética rica em inspiração, motivada pela paz do seu mundo pantaneiro e pela energia dos cedros que enfeitam seu pedaço oriental. Agitado e imprevisível compõe versos de amor, rabisca contos de humor, escreve textos e compõe músicas para teatro e carnaval, ao mesmo tempo registrando a história de sua terra. Campeão de samba-enredo, por quinze anos, nos carnavais de sua cidade, ainda escreveu oito livros e duas peças para teatro, além de poemas, músicas, crônicas e matérias técnicas sobre turismo. Jornalista e turismólogo passeia por outras atividades, buscando sempre novos desafios para exercitar seu inquieto espírito sagitariano. [Das andanças pelo romance e aventuras, retratados em suas obras, foi chamado de “Arquiteto de Sonhos” e continua a tecer, com letras e melodias, sua história de vida]

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