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segunda-feira, 26 de abril de 2010



Affonso Romano de Sant'anna



Dei para pensar em Marte, nos animais pelas savanas e nas bactérias.


Não deixei de pensar nos temporais e de ler jornais.


Sei que há balas perdidas, candidatos à presidência e que acabaram de lançar o mais avançado dos livros digitais.



Mas tirei algum tempo para ver como os macacos bonobos cobrem suas fêmeas, defendem suas crias e me interesso cada vez mais pelas aves, algumas monógamas outras que atravessam a cerca da fidelidade e, travessas, realizam sem remorsos seus instintos.


Mas as bactérias não param de me surpreender.


Bactérias, micróbios, seja lá o que for que habita o mundo para nós invisível. Outro dia fotografaram as mãos de um menino antes e depois de serem lavadas com sabão. Que imundices aviltantes carregamos em nossas mãos, que remorsos que nenhum detergente limpa em nossas almas.


Não bastava o mundo visível para nos atordoar, eis que, solerte, o mundo invisível nos vem com seus sortilégios.


E o mundo pequeno não pára de nos apequenar. Quanto mais o miramos, menores nos sentimos. Vejam essa experiência naquele túnel atômico construído na fronteira da Suiça: explodiram o invisível e descobriram que depois infinitesimal, outro infinitesimal existe. E o querem amealhar.


Então, solto esta exclamação falsamente sábia, que biblicamente só revela nossas estultícias: "Na verdade, não sabemos nada".


Confessar o nada saber, desde os gregos passou a ser a suprema banalidade. Mas sabedoria ainda mais atroz esse artista completo- J.W.Solha me revelou num poema, lembrando que Sócrates dizia- "Só sei que nada sei", mas um tal Arcesilau, foi ainda mais fundo na sua ignóbil sabedoria, e disse: "- Nem isto eu sei!".




Então, vou ao jardim e olhando a flor chamada "Ämor de homem", que muda de cor três vezes num dia, fico pasmo. Sapos, lagartixas, cupins, carrapatos e o canto de qualquer pássaro, tudo me deixa pasmo.


LIgo a tevê. E o pasmo continua. Não apenas nos programas onde vendem ilusões, doam casa, caminhões, apresentam perucas perfeitas para os envergonhados calvos.


Pois o pasmo (ou maravilhamento? ) deste eterno estudante do nada, vem agora dos programas da "TV Escola". Ali passam de novo, nas noites de domingo, aquela série do astrônomo Carl Sagan, na qual ele nos explica o inexplicável.


No último programa ele se concentrou em Marte.


Também quero me concentrar em Marte, embora as notícias de fraude aqui e ali, as buzinas nas esquinas e os barulhentos túneis de metrô que constróem aqui ao lado.


Ao que tudo indica, já houve vida em Marte. Há canais por onde devem ter corrido rios. E os cientistas imploram, anseiam por encontrar ali algum micróbio ou bactéria que prometa o recomeço da vida.


Outro dia me encontrei com o nosso astrônomo da Corte- Ronaldo Rogério Mourão Ferreira e lhe perguntei, que fim levou aquela nave que, há 30 anos, desferimos na direção de Urano? Já passou por lá? Por onde vaga como um vagalume esse apetrecho humano?


Ele me disse que a sonda ainda manda sinais, mas está perdendo o impulso.


Às vezes também sinto que estou perdendo o impulso. Talvez eu não passe de uma bactéria febril num canto do universo. Mas continuo me maravilhando.


Affonso Romano de Sant'anna


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